domingo, 2 de agosto de 2009

A saia da Tia Albertina

Esta é a segunda história de cadafazenses no tempo do volfrâmio, que foi escrita pelo Sr. Tenente-coronel Américo Alves Martins.

A senhora era do Cadafaz e chamava-se Albertina Henriques. Era conhecida por Albertina do Barbeiro. Isto porque seu pai era realmente barbeiro. Mas “barbeiro”, que além de cabelos e barbas que escanhoava os homens da freguesia, tinha adjacente a função de curandeiro.
Era o típico dos tempos idos. Na sacola, juntamente com o sabão e o pincel, ia a mezinha para aplicar ao padecente que surgisse.
A Ti Albertina era uma mulher alta, forte. Uma solteirona que a rija têmpera da serra moldara. Usava saia comprida como mandava as “regras volframistas”.
Atravessava ela, nervosamente, a Ponte – Cabreira, rumo ao Cadafaz, quando foi interceptada por uma diligente patrulha da G.N.R., que ali actuava por conta dos senhores ditos donos dos registos (alvará) daquela área.
- O que a senhora leva aí por baixo da saia volfrâmio escondido?
- Eu, senhores guardas? Afirmar isso é um disparate!
- Sim senhora, nós bem vimos estar a escondê-lo aí.
- Mas, oh senhores guardas, como pode ser isso, se eu nem calças trago? Querem ver?
Perante esta interrogação, significativa de um descontrolo comprometedor, os guardas lá a levaram para dentro do lagar, onde “apalpadeiras”, apressadamente contratadas, a revistaram. E, realmente, no bolso da saia (bolso que normalmente as mulheres cosiam na parte interior das saias, para candongarem as melhores pedras de volfrâmio) lá estava uma certa quantidade deste minério.
Como resultante, a pobre senhora (há muito falecida) ficou, em princípio, proibida de por ali voltar a trabalhar; mas a solicitação de pessoas amigas, foi autorizada a continuar a título muito excepcional.

- Nogueira Ramos, João, «O palco da vida, Acto 11 (três pequenas histórias)» in Góis, tempo de volfrâmio, Entre Memória e História, 1ª edição – Junho de 2007, pp 126-127.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradeço a sua visita e o seu comentário.
Informo que comentários anónimos não serão publicados.
Paula Santa Cruz