terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Recordando o passado

O texto que coloco hoje foi escrito pelo Sr. Luciano Nunes dos Reis e retrata a vida de alguns Cadafazenses que saíram do Cadafaz para irem trabalhar para Lisboa, isto nos anos 30 e 40.



Ao recordar os tempos idos, vou descrever, hoje a vida das nossas gentes que se deslocavam das suas aldeias para trabalharem em Lisboa, procurando com o seu trabalho uma vida melhor para as suas famílias.
Em primeiro lugar, iam os homens, só raras vezes as esposas os acompanhavam, pelo que, só passado muito tempo é que os casais se encontravam.
Passado algum tempo, depois de muitas privações, se a vida lhe tivesse permitido juntarem algum dinheiro iam à terra para comprarem uma terra, que, num futuro, lhes daria o sustento da família. Alguns levavam, nessa altura, as esposas para sua companhia, sujeitando-se a viver dois casais, ou mais numa casa com apenas duas assoalhadas e com uma cozinha em comum, que servia também como casa de banho, apenas com uma pia. Isto passava-se nos anos trinta e quarenta e até mesmo depois. Não se ia a um cinema ou outro divertimento, só se pensava em voltar à aldeia demonstrar uma vida melhor que os que ali residiam, sem demonstrarem os sacrifícios feitos.
De regresso, e já sem dinheiro, lá se começava uma vida nova, sempre com espírito de poupança. No entanto depois de uma semana de trabalho, chegava o Domingo, então, juntando-se um grupo de casais e amigos para conviverem, indo em passeio para fora de Lisboa levando o seu farnel (lanche) fazendo o piquenique, como o que vos apresento, hoje, na foto. Este grupo saía do Bairro Alto, de manhã, percorrendo a distância que os levava até à Mata de São Domingos, para os lados de Benfica e entre o Monsanto, posso não medir bem, mas suponho que serão uns 15 quilómetros.
No grupo fotografado, não tenho a certeza se os identifico correctamente a todos, pois muitos anos passaram, no entanto vou dizer os seus nomes e se por ventura me enganar peço desculpa.
Na primeira fila são: Adelino Martins, António Barata e filha, Manuel Martins dos Santos e sua sobrinha Maria Alice (minha ex. esposa) que recordo com muita saudade, Manuel Domingos, penso que José Ferreira e filhos.
Na segunda fila, vemos em primeiro lugar, José Gaspar Nunes, Manuel dos Santos, meu sogro, Justa Fernandes e sua filha Angelina Martins dos Santos, Ermelinda Almeida, Prazeres Vidal e Serafim Martins Brás, este felizmente ainda se encontra entre nós.
Como ia dizendo a vida não era fácil, os salários muito pequenos, pouco mais davam que o próprio sustento. As senhoras não trabalhavam, ficando retidas em casa entre as quatro paredes, e só saíam de vez em quando, em certos dias da semana, para irem ver os saldos que se faziam nos Armazéns do Chiado, Grandela, Ramiro, Leão, Paris em Lisboa e tantos outros. Chegavam a casa cansadas por terem andado a pé para pouparem uns míseros $20 vinte centavos que era quanto custava o bilhete do eléctrico.
Aqui fica um pouco de história do que foi a vida de outros tempos.
Luciano Nunes dos Reis.
in O Varzeense de 15 de Março de 2007


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Paula Santa Cruz