sábado, 21 de julho de 2012

Recordar o passado: Cadafaz em 1904

CADAFAZ
II
Esta povoação tem 100 fogos, aproximadamente, mas, vista de fora, parece ter muito mais porque muitas casas são desabitadas.
Apresenta um aspeto triste, pois tem só uma rua que se pode classificar de razoável. As casas são baixas e quase todas cobertas de loisas, o que não admira porque os seus habitantes dizem: — fazenda que não saibas e casa onde só caibas.
Em compensação, exporta em grande quantidade milho, azeite, mel, castanhas e vinho.
A instrução também ainda se acha bastante atrasada. Basta dizer que tem uma única escola para o sexo masculino. A qual, em face da atual lei de instrução primaria, só aproveita as crianças da própria localidade. Todavia, talvez por estar próximo da sede do concelho, já se nota nesta freguesia alguma civilização, e um certo cuidado de se tratar bem de qualquer negócio público. Por exemplo, a junta de paroquia funciona muito regularmente, o que não é vulgar encontrar-se em qualquer aldeia reunindo nos domingos marcados para as sessões sem ser preciso andar a chamar os seus membros ou levar-lhe os livros a casa para assinarem de cruz, e tratando dos interesses da paroquia exatamente como cada um trata dos seus, pelo que a igreja se acha dotada de todas as alfaias necessárias ao culto, e algumas de bastante valor avultado entre estas, as que foram oferecidas pelo Barão de Loredo, natural de Corterredor, povoação desta freguesia, tais como: um soberbo lustre de cristal, uma grande lâmpada prateada e um órgão. Pena é que estes e deixe estragar pela faIta de uso. Mas infelizmente não há dentro desta freguesia quem lhe saiba por mão.
A este cavalheiro que no Brasil adquiriu uma fortuna fabulosa, muito deve esta freguesia e algumas vizinhas, pois que se não fora ele, ainda hoje se achariam privadas de alguns melhoramentos. Assim nesta freguesia mandou construir uma casa de escola que se não é muito boa, a culpa não foi sua, mas sim dos encarregados de dirigir a obra, que presos à rotina de que não vale a pena gastar tempo e dinheiro com a instrução, contentaram se com fazer se uma pequena casa e mal mobilada, e uma ponte de pedra sobre o rio Ceira, próximo da Cabreira.
Em Gois e Pampilhosa mandou levantar fontes.
No ano de 1870 ou próximos, vendeu o Estado uns lagares pertencentes à Confraria do Santíssimo. A freguesia comprou-os em nome de um paroquiano com o fim de o rendimento destas fábricas reverter como até ali, em favor da igreja.
Para ficarem ao abrigo da lei reguladora deste assunto, nomeou-se uma comissão para os administrar.
S. F .
in A Comarca de Arganil de 21 de janeiro de 1904

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Paula Santa Cruz