Folhas Soltas de Cadafaz por A.Silva

O Que o Povo Ainda Tenta Preservar

Quando pensamos em património antigo nem sempre valorizamos o que se encontra mais próximo de nós. Talvez porque sempre o vimos ali, naquele local, sem que alguém nos explicasse a sua antiguidade, valor artístico e mui to menos, por quem e como foi o seu início. É certo que a dificuldade de tal esclarecimento não estava ao alcance de qualquer pessoa, a não ser grande erudito, embora eles tivessem existido desde os primórdios dos tempos. Mas, nunca é tarde, diz o Povo, um modo de atenuar a falta de conhecimento, dificuldades ou outras razões. E assim a falta destes valores levou a que se deixasse destruir, extraviar ou meramente esquecer.

PATRIMÓNIO RELIGIOSO

Porém, alguma coisa o Povo das zonas rurais ainda tenta preservar, é o seu Património Religioso, talvez como tentativa de auxílio ou companhia nas horas de solidão que os rodeia. Esta realidade parece ser quase usual, já que ao percorrermos os Concelhos, Freguesias e Aldeias, eis que em todas elas o nosso olhar perde-se ao encontro das Capelas, algumas mais distantes, como é o caso da Capela de Santa Luzia, na antiga povoação de Relvas-Cadafaz, onde já nem comunidade existe e a Capela de São Tiago. Também as Igrejas Paroquiais, nas sedes de freguesia, assinalam o local com a sua torre sineira. E não há dúvida que o zelo e conservação se mantem, em todas, continuando o respeito e devoção pelo seu patrono, tal como, o fizeram os seus antepassados. Este tem sido também, sem dúvida, o pensamento dos Cadafazenses, para com a sua Igreja paroquial, cujo patrono é Nª Senhora das Neves, e para com o nosso Guardião, Santo António, cuja capela se encontra à entrada da povoação. Além desta há mais, oito capelas na Freguesia: Nª Senhora dos Remédios em (Candosa), São Caetano (Capelo), São Domingos (Sandinha), Santo Amaro (Cabreira), Santa Luzia (Relvas), Nª Senhora da Boa Morte (Mestras), São Tiago e Nª Senhora do Desterro (Mestras - Cabeçadas), Nª Senhora da Conceição (Corterredor). Todas se encontram conservadas, graças ao empenho dos seus mordomos e fiéis.

No entanto, e no que diz respeito à Igreja paroquial de Cadafaz, a sua conservação tem sido com imenso esforço e boa vontade da pouca comunidade que ainda resta, de bondosos donativos particulares e dos elementos da Fábrica da Igreja que, pouco e pouco tem conseguido concretizar todas as obras feitas nestes últimos anos e foram várias... Sem quaisquer apoios estatais, municipais ou outros. Visto que, presentemente não existe a interligação de Igreja-Capelas como outrora, aIiás, sabe-se que também estas sobrevivem com as mesmas dificuldades. Em causa estará também a divisão de cerimónias religiosas, que em nada aumentou a assiduidade dos fiéis na sua igreja paroquial. Decerto uma solução que teria sido impensável pelos antigos celebrantes. Inclusivamente a entidade responsável pela ainda paróquia, dificilmente se integrou na ideia de fazer obras de preservação, onde pelo menos o apoio moral seria muito valioso e condigno Mas, felizmente, as obras estão quase concretizadas e o agradecimento virá da nossa Padroeira, para todos os que de alguma forma contribuíram, conseguindo que a obra dos antepassados, seja a continuidade do Presente e do Futuro.

CASA PAROQUIAL

Como é de conhecimento geral, também há nesta povoação um imóvel de três andares, pertença da Igreja e comunidade da paróquia. Tal edifício era habitado pelo então pároco só desta freguesia, ainda utilizado pelo Sr. Padre André que depois teria passado a ser também pároco no Colmeal e Cepos e portanto só passaria a ser utlizada consoante os serviços religiosos e ... que eram Imensos na época.

Consta ter sido de início uma pequena habitação, já existente em 1612. Em 1824 foi aumentada às expensas da Junta de Paróquia e em épocas posteriores foi sendo sempre conservada. Porém, em 1988, após decisão do Pároco responsável pela Paróquia, foi cedida provisoriamente aos serviços de apoio à comunidade, a Cáritas tendo funcionado alguns anos. Actualmente o mesmo serviço está localizado noutra povoação onde foi feito edifício próprio.

O que se toma imperioso é salvar o imóvel antes que se comece a deteriorar. Ou seja, é a altura da Fabrica da Igreja concretizar mais um dos sonhos da comunidade, conservar mais este património, já que muito tenha desaparecido.

PORQUE NÃO FAZER O MUSEU DO AINDA ESPÓLIO RELIGIOSO EXISTENTE .... E UM PEQUENO ARQUIVO.

- Se houver força e vontade dos jovens, avós e amigos ... quem sabe!

Sabemos que estamos quase como esquecidos .... de CADAFAZ, já nem se fala, salvo no pior sentido. Mas, na época presente os inocentes ... são canonizados... . e os infratores sobem de estatuto, são homenageados e condecorados. Talvez façamos parte dos primeiros.

Cadafaz, novembro de 2014

in O Varzeense de 30 de dezembro 2014