DE VEZ EM QUANDO…
CADAFAZ
A primeira visita!...
Estávamos em 1960, no
mês de Junho - cheirando a manjerico e à sardinha assada, dos arraiais
populares e do desfile das marchas na Avenida. Vicissitudes imponderáveis da
vida, haviam-me afastado quase uma vintena de anos, da terra aonde nasci, o meu
Fajão dos almocreves e dos célebres contos do Juiz, que andava sempre com um pé
descalço e o outro não encarei, portanto, o meu regresso à Serra, com
justificado alvoroço, embora não fosse ainda o retorno à minha terra natal.
Mas, casara há poucos meses, e a minha esposa Arminda, era de uma família
humilde e respeitável do Cadafaz. E iria, por certo, respirar a brisa que, do
Alto Ceira, vinha da minha aldeia ciosamente guardada pelos imponentes Penedos
de Fajão, sentinelas eternamente vigilantes.
Ao subirmos as voltas
consecutivas da Lousã os panoramas arrebatadores, a largueza dos horizontes, a
atmosfera campesina, o odor do mato e dos pinheiros tudo me fazia recordar a
ultima vez (com sete anos apenas) que deixara a Serra e rumará para a capital
num comboio fumarento, trepidante e vagaroso.
Quando abandonámos o
autocarro, na Selada do Braçal (era uma excursão para o Carvalhal do Sapo, por
alturas do S. João), a nossa família, meus sogros, meus cunhados, a minha
esposa e eu, juntamente com os dedicados cadafazenses, prematuramente já
falecidos José Martins (que grande alma.. ) e o Bladimiro Carneiro, e ainda o
Silvério Carneiro, felizmente ainda vivo e com uma actividade regionalista
intensa e digna de registo, em prol do Cadafaz; não tenho rebuço em confessar
que me custou - a mim, habituado ao piso macio e regular da cidade - a
calcorrear as ladeiras ásperas, carregado com pesadas malas, pretexto para
amigável gáudio dos familiares e amigos …
Chegámos à Portela,
ia derreado, cansado depois de quilómetros de pó em terra batida, com bagagem,
suado e com calor. Daí avistei o Cadafaz, alcandorado numa vertente do rio Ceira. As suas casas
negras, com os seus telhados de lajes, as suas ruas estreitinhas, a vida na
aldeia vozear inconfundível dos seus habitantes, a juventude exuberante, tudo
serviu para despertar em mim as reminiscências da terra onde nascera. O
acolhimento, que generosamente me foi dado, calou bem no fundo no meu ser, jamais
o esquecendo.
Desde então a gente
do Cadafaz, nunca me canso de o afirmar, tem demonstrado uma hospitalidade, uma
maneira gentil e fidalga de receber, franca, leal e sincera, desde os mais
humildes aos mais bafejados pela fortuna, que nos diz logo que as virtudes
serranas ainda não abandonaram aquele pequeno burgo, escondido entre serranias.
Foi esse carinho que
me conquistou e absorveu, e no desfilar dos anos, deixei de ser um intruso
antes fazendo parte integrante da comunidade cadafazense, à qual muito me
orgulho de pertencer.
E hoje, já a alguns
lustres de distância, nada mais grato ao meu espírito, observar a minha querida
e saudosa filha, o meu filho e os meus netos, amarem a terra dos seus
progenitores. Mas não só por esses laços indissolúveis que me ligam ao Cadafaz,
como tributo à verdade, sem receito de desmentido, afirmo convicto nunca me
esquecerei da primeira visita e tentando hoje, a cada momento, como ao longo
dos anos e do tempo, em todas as oportunidades e em todas as circunstâncias, retribuir
a consideração e a amizade recebidas.
António Batista de Almeida
in
Jornal de Arganil de 20 de novembro
de 2003
Sem comentários:
Enviar um comentário
Agradeço a sua visita e o seu comentário.
Informo que comentários anónimos não serão publicados.
Paula Santa Cruz