domingo, 13 de dezembro de 2009

Confrades de Góis

A constituição da Confraria do Cabrito e da Castanha da Serra do Ceira (Góis) foi de facto uma agradável surpresa até porque, já muitas vezes se tinha feito referência a esta iniciativa, nunca antes, por diversos motivos, concretizada.
Ainda este ano em conversa informal na Casa do Concelho de Góis em Lisboa, com o Sr. Casimiro Vicente, Presidente da Junta de Freguesia do Cadafaz, se tinha abordado este tema, até porque Góis já tinha "perdido" para Vila Nova de Poiares a Confraria da Chanfana, para a Pampilhosa da Serra a Confraria do Maranho e para Arganil a Confraria do Bucho, todas estas, iguarias com dinâmica gastronómica, também no Concelho de Góis.
A Confraria do Cabrito e da Castanha da Serra do Ceira vem assim suprir uma lacuna regional, que reverterá para a notoriedade do Concelho de Góis a nível nacional e, se bem trabalhada e divulgada para a notoriedade a nível internacional, traduzindo-se em mais e melhor turismo.
Este projecto trouxe-me à memória o cabrito assado em forno de lenha degustado em família. Belos sabores de outros tempos que não se podem nem devem perder.
Mas, afinal o que é uma Confraria? Do dicionário retiramos que se trata de uma associação com fins religiosos, irmandade, conjunto de pessoas que exercem a mesma profissão ou têm as mesmas ideias ou sentimentos (Confrade - o que exerce a mesma profissão, colega, camarada ou irmão).
As Confrarias foram a génese das Irmandades católicas de cariz leigo, das associações profissionais como as Ordens e ainda segundo alguns autores foram a génese da maçonaria.
Mais modernamente a nomenclatura "Confraria Gastronómica e Báquica" é reconhecida e associada a grupos de cidadãos defensores da Gastronomia de determinada região, elaborada com produtos endógenos, consumida por locais e turistas, criadora de fidelidades e de regresso, de culturas e de amizades.
O chamado primeiro repórter e turista português, Ramalho Ortigão, já nos finais do século XIX, deu a conhecer através do seu livro "As Farpas", os pitéus que extasiaram o seu palato em viagem pelo Minho, apelando à sua divulgação aquém e além fronteiras.
As Confrarias encontram-se associadas na Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas – F.P.C.G. - (fpcg.online.com), cuja actual Presidente da Direcção é Madalena Carrito (Confraria da Chanfana - V. N. Poiares), tendo a sua Sede institucional em Santarém e a sede funcional em V. N. Poiares.
Encontramos nesta Federação as Confrarias sediadas no distrito de Coimbra, a saber: C. da Chanfana (V. N. Poiares), C. do Bucho (Arganil), Real Confraria do Maranho (Pampilhosa da Serra), Real Confraria da Cabra Velha (Miranda do Corvo), A Confraria das Peraltas (Lousã), C. do Queijo da Serra (Oliveira do Hospital), C. Nabos e Companhia (Carapelhos), C. da Lampreia (Penacova), C. Aromas e Sabores Gandarezes (Tocha), C. do Queijo Rabaçal (Rabaçal), C. Gastronómica do Arroz e do Mar (Figueira da Foz), C. do Bolo de Ançã (Ançã) e C. Doçaria Conventual de Tentúgal (Tentúgal).
O primeiro passo da Confraria do Cabrito e da Castanha do Concelho da Serra do Ceira, foi então dado com a escritura da sua constituição, tendo como fundadores a Dr.ª Lurdes Castanheira (Presidente da Câmara Municipal de Góis), Sr. Casimiro Vicente (Presidente da Junta de Freguesia do Cada faz e promotor e mentor deste projecto), Sr. Armindo Neves (Secretário da Junta de Freguesia do Cadafaz), António José Gouveia (Presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova do Ceira) e o Sr. Carlos da Conceição Jesus (Presidente da Junta de Freguesia do Colmeal).
É importante ver o envolvimento neste projecto de 3 freguesias (de um total de 5) do Concelho, sentindo a importância deste projecto para a notoriedade do Concelho de Góis e da sua população.
A continuação do projecto passará agora pela escolha e execução dos Paramentos, Traje e Insígnias, para as quais atrevo-me a aconselhar a recuperação dos trajes da época de D. Luís da Silveira e da Ordem dos Beneditinos que por essa época exerciam alguma influência em Góis através do Mosteiro de Semide. Fica a ideia.
A última, mas mais importante tarefa é a criação da notoriedade concelhia da Confraria, através do cuidado a ter na entronização de pessoas notórias ligadas a Góis e concelhos vizinhos, numa primeira fase evolutiva que terá a sua continuação no envolvimento de pessoas de vulto da cultura nacional e porque não internacional, elevando o nome de Góis, da sua cultura, das suas gentes e da sua gastronomia.
Coloca-se assim mais uma pedra, de muitas necessárias, na reconstrução da sociedade goiense, contribuindo para a sua motivação e confiança no futuro.
Os detractores de ideias dirão que no imediato este projecto não vai gerar empregos. Completamente de acordo. Só que, quem não pensar a médio e longo prazo está condenado ao fracasso. As boas ideias sobrevivem sempre ao futuro.
Sejam felizes, sem medicamentos e com boa comida regional.
Dr. Fernando J. Bandeira da Cunha, Farmacêutico
in O Varzeense, de 30 de Novembro de 2009

1 comentário:

  1. Olá! O texto está muito bem escrito. O senhor doutor Farmacêutico que o assina vai à falência, se o desejo dele se concretizar - eheheh.
    Penso que algumas das confrarias referidas estão na Serra da Lousã e à volta dela. As receitas de culinária da cabra fazem parte da Beira Baixa, uma das regiões mais pobres no que respeita ao desenvolvimento de pastorícia, com fraco alimento para os ovinos e bem melhor para caprinos. Tal como as tripas pertencem ao Porto, porque assim reza a história, a cabra e família é a fonte da chanfana, do bucho e do maranho.
    Fiquem bem.
    Um Santo Natal para todos.

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Paula Santa Cruz