Aqui fica o texto:
O Jogo da Aldeia
A aldeia adormece. Adormece porque só assim a morte chega.
Adormece porque até a própria vida perdeu a vontade de viver. Os telhados de
xisto lamentam já não terem ninguém para abrigar. As pedras da calçada... essas
choram e fazem luto às memórias dos bailes de verão onde sorriam a quem
dançasse por cima delas. O lobo acorda. Mas as capoeiras estão vazias e os
prados por cortar. O lobo adormece. As ruas ficam à espera que o eco do relógio
da aldeia passe por elas, solitário. E as árvores de fruto, essas reclamam da
sua falta de espaço pessoal já que os castanheiros e os eucaliptos, por já não
servirem para a lenha, reproduzem-se como coelhos. O vidente acorda. Mas estas
montanhas perdidas no tempo estarão para sempre imutáveis. O vidente adormece.
Os carros passam sem fazer qualquer paragem. Não conseguem encontrar neles
vontade para se fazer de visitantes e acordar a aldeia. Mas subitamente a
aldeia acorda. Estamos na primeira semana de agosto e nos próximos dia a aldeia
terá cor, movimento e barulho. Vida. Transforma-se num retiro sagrado aos seus
ocupantes. Uma cúpula onde se perdem os stresses do mundo. Mas as pessoas ficam
com saudade do exterior e uma por uma despedem-se e aldeia deprime. Está
cansada de dormir. Anseia pelo dia da sua morte. Mas enquanto o seu nome
estiver na fala e no pensamento das pessoas isso nunca acontecerá. E mais uma
vez, a aldeia adormece.
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Paula Santa Cruz