terça-feira, 8 de março de 2011

O DIA DE CARNAVAL por Armindo das Neves

O texto de hoje foi recolhido de um antigo jornal que existiu em Góis na década de 70 e retrata a um pouco a vida dos militares que combateram nas antigas Colónias. O Sr. Armindo Neves retrata como foi o seu dia de Carnaval em 1972.

De dia a solidão e a saudade – todo esta monotonia – vai-se afastando lentamente, apesar de as distracções serem pouquíssimas. Mas quando a noite surge, volta de novo a tristeza.
Neste momento em que escrevo encontro-me sentado junto a uma mesa do Depósito de Géneros desta unidade onde me encontro cumprindo a minha missão.
Hoje terça-feira de Carnaval o dia apresenta-se apetitoso, mas o sol cada vez mais escaldante, faz lembrar o verão metropolitano e aqueles dias passados na praia. Neste momento até chego a esquecer que estou envolvido numa missão! Missão essa que tem por finalidade a guerra.
Mas eis que neste momento um avião voa em direcção à pista de aterragem, e vem-me afastar destes belos pensamentos.
O avião encontra-se já no lugar de estacionamento, e todos os meus camaradas acorrem para junto dele. Não consigo resistir e vou ver o que se passa. Olho o interior do avião e não vejo nada de anormal; mas verifico que o piloto está com uma satisfação sorridente, o que não é vulgar. Pergunto-lhe o porquê daquele sorriso. Mas em breve venho a saber que ele saiu vencedor da missão que lhe foi confiada. Pois graças a ele temos entre nós um saco de correio que é a nossa maior alegria.
Volto novamente para o Depósito de Géneros, mas desta vez com pensamentos diferentes, pois na minha frente para lá da densa barreira de arame farpado vejo o imenso capim e a densa mata, que várias noites enfrento quando de ronda aos vigilantes dos postos. Só tenho por companheira a solidão e a saudade daqueles que me são queridos. A minha arma automática também faz parte da minha companhia porque é ela quem pode vir a oferecer-me a vida assim como também aos meus camaradas, pois todos nós enfrentamos o inimigo, defendendo este nosso Moçambique que é nosso e será sempre enquanto houver Portugueses. Foi assim parte do meu dia de Carnaval.
O correspondente
Armindo das Neves
1º Cabo Cond.Auto – S.P.M.6694
in O Goeinse Nº78 de Março de 1972
      

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Paula Santa Cruz