terça-feira, 22 de março de 2011

Recordando o passado e vivendo o presente

O texto de hoje foi escrito pela D. Arminda de Jesus Alves Martins, em que fala sobre os seus antigos alunos:

Quando se atinge uma certa idade as recordações vêm à mente como que um rosário de saudades.
Quer na nossa vida particular, quer na profissional há sempre bons e maus momentos a recordar. Os bons são menos que os maus, mas a vida é feita de altos e baixos e disso temos que nos convencer.
Na minha vida particular não vou entrar em detalhes por não interessar a ninguém, e toda a gente tem os seus problemas, embora uns mais que os outros. Quero sim realçar a minha vida profissional.
Foram anos e anos a conviver com crianças, umas dóceis e inteligentes, outras mais aéreas e com menos capacidade intelectual, mas todas simples e sem maldade. Todas me mereciam o mesmo afecto e esforço para que o seu aproveitamento escolar fosse o melhor possível.
Lembro-me bem que quando tinha a sala cheia de crianças olhava-as e via que naquelas pequenas criaturas não havia maldade nem egoísmo, apenas traquinices próprias das suas idades.
Foram dezenas e dezenas a quem ministrei as primeiras luzes para que mais tarde tirassem proveitos desses ensinamentos.
Muitos foram os que obtiveram uma boa colocação na vida, alguns tirando a sua formatura. Isso dá-me orgulho e peço a Deus que os ajude em todos os aspectos da sua vida.
Alguns já partiram para o Além, mas sempre os recordarei com muita tristeza.
De todas as escolas por onde passei e do grande número de alunos que as frequentaram, sinto imensas saudades.
Muitos há que hoje reconhecem o quanto é fundamental os primeiros alicerces escolares e por isso me têm manifestado e dado o seu carinho com palavras sinceras e amigas. Mesmo estando longe (até no Brasil), não se esquecem de me escreverem de vez em quando e visitando-me quando a vida lho permite.
Ainda há poucos anos tive o grato prazer de receber a visita de dois irmãos que foram para o Brasil ainda crianças para se juntarem a seu pai. Nunca tinham tido a oportunidade de voltar à sua terra natal (Corterredor) para verem seus familiares e amigos.
Eu não fui esquecida desse rol de amigos, pois vieram propositadamente ao Cadafaz para me verem e abraçar.
Quanto gostei de os ver e conversar com eles, bem como os outros dois irmãos que tinham ficado em Portugal, mas que fizeram questão de os acompanhar na sua visita.
Também de Pombeiro da Beira, tenho sido visitada algumas vezes pela minha ex-aluna e amiga Gabriela.
Não me esqueço daquela vez que vinha dizendo a caminho de minha casa: Não me posso ir embora sem ver a minha professora.
Era a voz duma antiga aluna, que viveu no Tarrastal com seus e irmãos.
Outras há, e disso bem me lembro, que muitos vivendo no estrangeiro, mas quando vêm de férias não se esquecem de me procurar, manifestando o seu carinho e dedicação.
Também há alguns, e não são poucos que ainda hoje me tratam por minha senhora como era chamada nessa época a professora primária.
Não me posso esquecer daquele, que foi um dos muitos alunos que frequentaram a escola do Colmeal, e vivendo em Lisboa, mas quando vem ao Cadafaz não se esquece de me bater à porta e carinhosamente me chama a “Mamã das Letras”.
Jamais esquecerei tantas provas de carinho que me têm dedicado e o apoio moral nas minhas prolongadas doenças.
Que Deus lhes pague dando-lhes saúde e sorte e a todos os seus familiares.
Mas como não há trigo sem joio, também no meio desta seara de trigo puro aparece uma pequena minoria de joio, de quem tenho recebido desprezo e ingratidões.
Paciência, não pode ser tudo bom neste mundo, mas o certo é que todos temos que dar contas a Deus do bem e do mal que fizemos.
Arminda.

Nota: Retirado de um jornal regional de Arganil, desconheço a data da publicação.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradeço a sua visita e o seu comentário.
Informo que comentários anónimos não serão publicados.
Paula Santa Cruz