quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Folhas Soltas de Cadafaz por A.Silva

A mulher mais ignorada foi certamente a do Mundo Rural


Quando nos referimos a pessoas de mérito quer por feitos patrióticos, artísticos, literários ou até por ter conseguido sobrelevar o seu nome destaca-se quase sempre – o Homem – . Talvez porque a mulher, segundo parece, esteve sempre relegada para segundo plano. Inclusivamente segundo o direito Romano, à mulher apenas competia a casa e filhos, sem participação em quaisquer outros actos comunitários ou administrativos.
Mas nem em todas as épocas foi assim, verifica-se que no séc. XII/XIII a mulher já tinha um papel importante em países mais avançados. Em Paris já havia mulheres formadas, professoras, médicas, advogadas, etc. Também nas Abadias e Conventos ensinavam a leitura, coser e bordar. Mas foi também nesta altura que o Papa Bonifácio decide clausura total às monjas sem intervenção no mundo rural. Sendo depois S. Vicente de Paulo que no sentido destas poderem prestar assistência aos necessitados passaram a ser tratadas como Freiras e não religiosas.
No que se refere ao matrimónio principalmente entre a nobreza ou grandes senhores os casamentos já eram destinados quase quando as crianças ainda estavam no berço, isto para se agregarem as grandes heranças. Só no Séc. XVII a mulher toma o nome do marido. E falando da nobreza no que se refere ao nosso País encontramos muitas obras feitas por algumas das nossas Rainhas e que ainda hoje perduram como por exemplo – a Rainha D. Leonor, esposa de D. João II que fundou o Convento da Madre de Deus e o Hospital das Caldas da Rainha.
Na Misericórdia, que logo a seguir se expandiram por todo o País (60), a Rainha D. Maria I, fundou a Casa Pia de Lisboa, a Academia de Ciências e a Biblioteca Nacional, entre outras. Mas nem só as que deixaram grandes e valiosos espólios são dignas de renome, muitas foram as que saltando a barreira de reconhecimento que as separava deram grande contributo ao nosso país e uma delas foi na defesa de Lisboa em 1384 e 1580 (ver Conq. de Lisboa por R. Valad.) e em 1846 a Maria da Fonte no Minho. Muitas outras se tem destacado ao longo dos anos nos diversos cargos e formações mas parece que a sua lembrança se vai perdendo com o tempo.
- Mas a razão do meu artigo não era relembrar as que já fazem parte das enciclopédias, mas sim as mulheres que nunca foram reconhecidas ou seja a Mulher Rural – apesar de uma grande percentagem não ter tido o direito à escola, (dizia-se não ser necessário a mulher aprender a ler ou escrever) elas também eram inteligentes e tinham sonhos e esperança como qualquer ser humano, aliás sempre deram a sua valiosa contribuição quer no agregado familiar, ou no campo ou até em qualquer outro recurso que ajudasse a superara as dificuldades consoante as épocas.
Sem meios de assistência humano e cujo contributo para a sua alimentação e de todos os seus só provinha do árduo trabalho do campo. Pelo que, muitos dos homens abandonaram a aldeia e a família na esperança de conseguirem algumas economias, o que nem sempre acontecia, regressavam doentes e sem dinheiro.
A confirmar este pequeno resumo rural, descreverei um apontamento verbal e verídico contado por uma Mulher que, tal como muitas outras, sentiu o peso do seu mundo rural: “- levantava-se muito cedo de Verão ou Inverno, fazia a “dejua” para o marido e filhos, tratava dos animais domésticos (às vezes a essa hora já tinha amassado e colocado no forno uma fornada de broa), arranjava uma merenda e seguia com os pequenos para a fazenda, cavar regar ou outro qualquer serviço, ao mesmo tempo ia vigiando a cesta onde estava o pequerrucho mais novo, isto até ao sol posto. No regresso com a cesta à cabeça com alguma coisa de legumes ou lenha para a fogueira e na abada um filho e outro pela mão. Embora tarde ainda tinha de tratar de tudo e fazer o caldo com mais qualquer coisa, dinheiro não havia, as colheitas mal davam para o governo da casa. As sardinhas, de vez em quando, e eram partidas ao meio etc. etc.” – A verdade que conseguiu superar tudo isto e criar 6 filhos. Hoje a sua memória está intacta de recordações, que ao ouvi-las nos fazem reflectir… como era possível viver com tão pouco – se hoje temos tudo e não somos felizes?
Resta-me dedicar este artigo a todas as mulheres desta aldeia que conheci ou que infelizmente ainda se encontram entre nós – Elas foram um exemplo de Força e Coragem.
in O varzeense de 30 de Dezembro de 2010

1 comentário:

  1. Olá Paula. Escreve bem, quem sabe sobre o que escreve.
    Não posso esquecer a Padeira de Aljubarrota, rapariga forte e corajosa que ajudou as tropas portuguesas a expulsar os castelhanos da nossa terra no ano de 1385, reinava então El rei D. João I. Desculpe lá. Era uma Mulher do Mundo Rural e merece ser aqui relembrada, para além das muitas e mui ilustres desconhecidas das nossas terras.
    Vivam as mulheres desconhecidas e trabalhadeiras!!!
    Beijo

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Paula Santa Cruz